30 de julho de 2017

As palavras que disse em silêncio I



Sempre pensei que significaria alguma coisa para você, até o dia que virou as costas. Você preferiu o silêncio e eu, talvez quisesse escutar suas pausas, entre uma reticência e outra. 

O que passa pela sua cabeça quando imagina que minhas manhãs não são mais as mesmas? Não demore tanto para responder. Não faça essa cara de quem não acredita que perdeu no jogo. Não demore até achar que não me conhece. É verdade, você não me conhece. Talvez esteja certa, talvez tornei-me desconhecida em tão pouco tempo.

Não canso da rotina que invento todos os dias, não canso de achar que alguém esteja do meu lado direito da cama, sonolento, com o corpo quente e de estômago vazio, esperando que eu faça o café. Talvez seja o costume que você jura não ter e, ainda demore até eu perder aquela sensação de que alguém estaria realmente esperando por isso. Talvez você levante, vá para o chuveiro enquanto finjo que ainda estou dormindo. 

O vento no quarto balança minhas cortinas, faz o mesmo movimento da tua. Faz parecer que talvez eu estivesse na cama errada, no lugar errado. Continuo brincando com os meus olhos. A impressão que tenho é como olhar a luz do sol refletindo no seu corpo.

Foi aquela impressão e continua sendo a mesma que, vez ou outra, assombra e me faz querer voltar. E não volto. Tomo um café logo pela manhã, cedinho. Penso que estou bem e estou Você foi um personagem que criei na minha cabeça e agora continua fazendo parte de um enredo dramático que insisto em dizer que era romântico. 

Contento-me com a melodia das vozes pelas manhãs.
Levanto vagamente e vem um gosto de saudade, dessas saudades que a gente insiste em não sentir. Continuo te julgando. Não tem voz rouca e grossa, não tem bom dia. Sou só, a música que toca no quarto, as pessoas e uma escrivaninha emprestada. 

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