Dia desses, me disseram que levo jeito com as palavras, que
tenho facilidade para me expressar. Agradeci, mesmo sabendo que escrevo
justamente por não saber me expressar de outra forma. Eu converso, interajo, dou risada, mas sou
vagante. Viajo, me sinto fora do ar, não estou ali de verdade.
É difícil de
explicar, por isso, escrevo. Escrevo porque, entre uma linha e outra, é
onde eu me encontro comigo mesma. Escrevo porque não sei lidar com sentimentos, é mais
fácil canalizá-los para um caderno, bloco de notas do celular, enfim,
algum lugar onde eu não precise me preocupar se as palavras saem de forma
confusa e desengonçada.
Escrevo para desatar os nós que insistem em se formar na
minha garganta. Escrevo porque observo. Muito. Só quem é extremamente
observador e detalhista sabe o que é reparar num tom de voz sutilmente mais
rude do que de costume, saber que não fez diferença pra ninguém ao redor e,
subitamente, ter a necessidade de despejar todas essas observações em algum
lugar.
Não é questão de romantizar o cotidiano, escrever é uma forma
de garantir que o "meu mundo" permaneça vivo em mim, nesse mundo. Escrevo
porque é minha forma de encarar melhor as coisas, analisar "de fora"
e tentar encontrar algum sentido naquilo tudo ou nisso tudo.
Escrevo porque aprecio a solidão. Não no sentido de eu odiar
estar com outras pessoas, mas no sentido de eu ter percebido, há algum tempo,
que só me aproximo de me compreender completamente quando só tenho a mim como
companhia. No exato
momento em que escrevi isso, minha companhia pode ser resumida a um álbum de
Yann Tiersen tocando nos fones de ouvido e esse emaranhado de pensamentos que
eu só consigo decifrar dessa forma. A
solidão é um fardo e uma benção. Escrever
é eternizar o efêmero.
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