18 de setembro de 2017

Pode ser



Pode ser que os dias sejam tão calmos como o olhar de minha professora de literatura. Pode ser que o vento bata forte até doer como naquele agosto de 2015 em que precisei atravessar a João Valério correndo e eu não estava preparada para a mudança de tempo. Pode ser que esteja quente e com ladeiras, como num carnaval no interior. Pode ser que as ladeiras existam pra ir até a padaria, como nos meus anos em Manaus ou como nos meus meses em Anorí.

Pode ser que as pessoas queiram demais lutar pela política que valoriza só o próprio umbigo. Pode ser que outras pessoas não concordem, mas percam por não saber onde recomeçar um diálogo. Pode ser que não seja justo. Pode ser que haja diálogo. Pode ser que haja gritaria, força, desamparo, desespero. Pode ser que no meio disso tudo, há um açaí ou um pudim de maracujá na mesa de minha mãe. Pode ser que a gente desista do que acabamos de decidir. Pode ser que a gente feche os olhos e deixe a intuição levar o vendaval.

Pode ser que a gente aprenda a parar de opinar na roupa dos outros, no gosto musical, na religião, na sexualidade e na emoção dos outros. Pode ser que a gente aceite e veja bem, aceitar não é querer fazer parte, nem querer ter por perto. É sobre respeitar.

Pode ser que a gente enxergue além sem poder fazer nada com isso. Pode ser que a gente queira deixar pra depois. Pode ser que chova demais como naqueles dias em que queria entrar no rio, mas olhava pro céu que não me permitia. Pode ser que a gente se permita mais. Pode ser que... Eu quero me permitir...

30 de julho de 2017

As palavras que disse em silêncio I



Sempre pensei que significaria alguma coisa para você, até o dia que virou as costas. Você preferiu o silêncio e eu, talvez quisesse escutar suas pausas, entre uma reticência e outra. 

O que passa pela sua cabeça quando imagina que minhas manhãs não são mais as mesmas? Não demore tanto para responder. Não faça essa cara de quem não acredita que perdeu no jogo. Não demore até achar que não me conhece. É verdade, você não me conhece. Talvez esteja certa, talvez tornei-me desconhecida em tão pouco tempo.

Não canso da rotina que invento todos os dias, não canso de achar que alguém esteja do meu lado direito da cama, sonolento, com o corpo quente e de estômago vazio, esperando que eu faça o café. Talvez seja o costume que você jura não ter e, ainda demore até eu perder aquela sensação de que alguém estaria realmente esperando por isso. Talvez você levante, vá para o chuveiro enquanto finjo que ainda estou dormindo. 

O vento no quarto balança minhas cortinas, faz o mesmo movimento da tua. Faz parecer que talvez eu estivesse na cama errada, no lugar errado. Continuo brincando com os meus olhos. A impressão que tenho é como olhar a luz do sol refletindo no seu corpo.

Foi aquela impressão e continua sendo a mesma que, vez ou outra, assombra e me faz querer voltar. E não volto. Tomo um café logo pela manhã, cedinho. Penso que estou bem e estou Você foi um personagem que criei na minha cabeça e agora continua fazendo parte de um enredo dramático que insisto em dizer que era romântico. 

Contento-me com a melodia das vozes pelas manhãs.
Levanto vagamente e vem um gosto de saudade, dessas saudades que a gente insiste em não sentir. Continuo te julgando. Não tem voz rouca e grossa, não tem bom dia. Sou só, a música que toca no quarto, as pessoas e uma escrivaninha emprestada. 

27 de janeiro de 2017

Playlist: Músicas para escrever e se inspirar


Finalmente decidi criar uma playlist especial inspirada no tema do Blog. Foi com muito carinho e cuidado que selecionei mais de 20 músicas que fazem meu coração bater mais rápido.

Quando estou em processo de escrita a trilha sonora faz toda diferença e ajuda nos momentos em que a inspiração simplesmente desaparece. Não sei se com vocês também é assim, mas escutar músicas que eu nunca ouvi ou ao menos não escutei tantas vezes me ajuda a ter novas ideias e pensar de forma diferente.

Foi uma tarefa difícil, confesso, mas acho que a playlist será útil pra todo mundo. Nem que seja só pra conhecer um monte de banda legal ou lembrar de outras. Compartilho a minha playlist favorita com vocês, sintam-se à vontade pra ouvir!

Link da playlist no Spotify



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15 de janeiro de 2017

A solidão é um fardo e uma benção


  
arte: figura feminina em luz de vela, pelo pintor dinamarquês Carl Vilhelm Holsøe (1863–1935)


Dia desses, me disseram que levo jeito com as palavras, que tenho facilidade para me expressar. Agradeci, mesmo sabendo que escrevo justamente por não saber me expressar de outra forma. Eu converso, interajo, dou risada, mas sou vagante. Viajo, me sinto fora do ar, não estou ali de verdade. 

É difícil de explicar, por isso, escrevo. Escrevo porque, entre uma linha e outra, é onde eu me encontro comigo mesma. Escrevo porque não sei lidar com sentimentos, é mais fácil canalizá-los para um caderno, bloco de notas do celular, enfim, algum lugar onde eu não precise me preocupar se as palavras saem de forma confusa e desengonçada.

Escrevo para desatar os nós que insistem em se formar na minha garganta. Escrevo porque observo. Muito. Só quem é extremamente observador e detalhista sabe o que é reparar num tom de voz sutilmente mais rude do que de costume, saber que não fez diferença pra ninguém ao redor e, subitamente, ter a necessidade de despejar todas essas observações em algum lugar.

Não é questão de romantizar o cotidiano, escrever é uma forma de garantir que o "meu mundo" permaneça vivo em mim, nesse mundo. Escrevo porque é minha forma de encarar melhor as coisas, analisar "de fora" e tentar encontrar algum sentido naquilo tudo ou nisso tudo.

Escrevo porque aprecio a solidão. Não no sentido de eu odiar estar com outras pessoas, mas no sentido de eu ter percebido, há algum tempo, que só me aproximo de me compreender completamente quando só tenho a mim como companhia. No exato momento em que escrevi isso, minha companhia pode ser resumida a um álbum de Yann Tiersen tocando nos fones de ouvido e esse emaranhado de pensamentos que eu só consigo decifrar dessa forma. A solidão é um fardo e uma benção Escrever é eternizar o efêmero.