28 de novembro de 2019

O dia em que eu me apaixonei pela liberdade

Elevan A.M., 1926

Quando chega a hora de voar e a gente voa, mas não é só o endereço que muda, há algo dentro de mim que sofre uma transformação imediata e absurda quando resolvo ir embora. Uma parte de mim sempre fica e a outra parte, ganha milhares de novas incertezas. Acredite: ninguém sabe ao certo para aonde você está indo – e muito menos quem já se foi.

O frio na barriga continua o mesmo. A insegurança permeia a metáfora do meu discurso. Ainda temo não saber o que fazer da vida, no entanto, apego-me a mim. Porque nos dias mais assombrosos que precisei fugir, eu estava lá, em mim, comigo.

Ainda dá uma gastrite danada dessa dúvida entre chorar e sorrir, entre o ir e o ficar, entre abraçar e não largar. Ainda continuo me importando se irão julgar minhas escolhas como burras, erradas, impensadas – como se alguém, olha só, soubesse o que é melhor pra mim além de mim mesma.

Há quem duvide do ato de arrumar as malas. Se for ruim ou não, costumo achar que deixo um pedaço de mim em qualquer lugar que me despeço. Talvez seja o peso etílico-amelístico que pessoas intensas carregam nas malas, talvez seja modéstia imaginar que, no meio desses quilômetros todos, aparecem as dúvidas. Às vezes, sou contraditória. Vivo descobertas entusiasmadas e, no dia seguinte, acordo num tédio querendo voltar. Amo, mas penso que não é tudo aquilo que planejei. Ou penso que era tudo aquilo que imaginava, mas ainda não consigo acreditar. Porém, sigo na esperança de me encontrar.

Caminho e ainda sinto como se fosse aquela criança passeando descalça pelas ruas de minha casa. Não vejo o perigo. Arrisco-me nele. Agora, com os meus vinte e poucos, deparo-me com minhas asas mais abertas. Inclino-me na liberdade de encarar e tentar descobrir se é mesmo isso aí, como diria tio Grijó: “nos tornamos aquilo que achamos que iríamos ser.”

E, no meio disso tudo, descobrir que abandonar um pouco do lugar que era tão nosso e mudar pra um lugar distante é também uma maneira de se reinventar. É uma maneira de se livrar de tudo o que acham que deveríamos ser, de tudo o que acham devíamos fazer, de todas as escolhas que acham que deveríamos tomar.

Não sei. Talvez seja cedo pra falar ou talvez eu nunca saiba bem sobre tudo o que falo, mas nesses dias de saudades, medos gigantes e descobertas felizes, o que eu sei é que se permitir sermos o que somos é, no fundo, uma forma de se libertar.



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