22 de outubro de 2019

Será que quero continuar com o blog?

                                                        arte: Vicente Romero
Outro dia, recebi uma mensagem de uma leitora antiga, que acompanha o blog há um tempo. Entre uma frase e outra, ela me jogou um questionamento: você abandonou o blog? Minha primeira reação foi pensar que sim. Porque há tempos, estava me sentindo culpada por não postar mais nada por aqui, e até pior, por sequer acessar o blog para ver se o domínio ainda estava no ar.

Meu último post foi no dia 27 de janeiro. Meu último texto, de fato, foi no comecinho de janeiro também. Naquela época, estava animada com aquelas metas que você sempre acha que vai cumprir quando começa um novo ano. 

Mas a vida foi ficando um pouquinho mais difícil do que estava imaginando nestes primeiros meses de dois mil e dezenove. Entre uma porrada e outra (no emocional, na vida acadêmica, na vida familiar etc), ainda me vi tendo que me recuperar de alguns socos, desses socos que a gente acha que nunca vai levar. Metaforicamente, a vida dá uns “soquinhos” na gente, né?

Andei sobrecarregada na faculdade e exausta emocionalmente. Abandonei o blog por um período porque eu simplesmente não tinha mais vontade de vir aqui. Não tinha vontade de escrever qualquer coisa, quando por dentro eu tava procurando um silêncio que não conseguia encontrar.

É difícil admitir que você falhou. Mas admitir que falhei em cumprir o que tava me prometendo é uma forma de entender que eu não tenho que abraçar o mundo de uma vez só. Tudo bem eu fazer as coisas em outros ritmos. Não tenho que ficar me comparando a ninguém, nem tentando fazer de tudo só porque vejo que outras pessoas conseguem fazer. De verdade, continuar assim só ia me deixar ainda pior.

Enquanto eu estava me recuperando de tudo isso, me segurando aos pouquinhos para continuar escrevendo, o Matheus Rocha, do blog Ininterrupto, também me fez pensar por cinco segundos o que eu poderia responder sobre o sumiço de minhas crônicas. Daí, me veio um trecho de uma música do Billy Joel que amo “slow down, you crazy child” (e que, inclusive, irei tatuar a qualquer momento, brincadeira). E foi aí que me toquei e pensei que podia desacelerar um pouco e tudo bem. Acontece. Irei voltar. Breve, breve!

Então, este post, na verdade, talvez seja um pedido de desculpas, mas também uma explicação que não consigo fazer tudo ao mesmo tempo e não vou me forçar a fazer. Vou voltando aqui aos poucos, no meu tempo, quando conseguir encaixar os posts do blog no meu dia a dia novamente. 

E se quiserem saber por onde ando. Ando por aí em quase todas as redes sociais e adoro receber mensagens de vocês. Vamos conversar mais sobre o que querem ver por aqui, sobre os blogs de vocês, o que andam lendo e tudo mais!

Estou sempre no instagram: @yasminsalomao_


                                             




21 de outubro de 2019

As palavras que disse em silêncio II

                                                Imagem: Automat, 1927, Edward Hopper.


Sumi. Dizem.

Dei uns perdidos na vida, não queria conversar, tampouco escrever. Jogaram-me num mar de dúvidas entre uns falsos otimistas a quem me questionavam: o que quero da vida, quem eu quero ser, o que quero fazer daqui pra frente, por que nunca era boa o suficiente pra ninguém ou pra nada, e por que dói se deveria estar tudo bem?
 
Creio que estava esgotada do cansaço que era de não mais me pertencer. Talvez estivesse perdida demais. Tudo era em excesso. Era o acúmulo de culpas de uma realidade que fora construída para abrigar minhas lamentações. Eram escolhas que insistiam em dizer que estavam certas outrora, erradas. Das pessoas que deixei escapar, desses caminhos que foram tomados e outros desviados.

Amargurada. Tal amargura fazia-me fugir dos outros. Não pelos outros – mas por mim. Estava num confronto e não tinha ninguém do outro lado da parede que poderia me salvar. Não saberia ao certo se lutaria, entenderia, ou aguentaria os laços indissolúveis que criaram para mim enquanto ainda resistia.

Sumi. Dizem. Fui resolver uns problemas comigo, fui entender no que precisava melhorar. Precisei da ausência até entender que, pera aí... Não preciso provar nada a ninguém, o método que uso na vida é deixar sempre a essência falar.

Aí de mim, escutar e não poder responder. Aí de mim, viver num palco estabelecido por "perfeições domésticas" por trás de cortinas, vivendo um falso equilíbrio por puro ego. A dor da não-notícia. As feridas internas mudando o semblante e a serenidade que já não me pertencia mais.

Sumi. Dizem. Saí de mim por um tempo. Lembro-me da última parada, da mão gelada ao pé do ouvido e do último afago que me destruiu por dentro, embora eu sentisse um pouco de fadiga nos olhos, mas lá dentro, eles ainda continuam castanhos e sonhadores.

Sumi. Sofri uns baques, revivi umas dores e outras. Mas nunca estive tão a fundo de meu próprio silêncio e nunca foi tão libertador escutar o que sempre esteve aqui, dentro. Ninguém precisa passar por situações difíceis tão sozinha, sem querer que os outros percebam a fragilidade de dentro. Até porque, pouco tempo após isso, agarrei-me na mão de muita gente, todos suados e cansados mas seguramos firmes, mesmo com as câimbras, não soltei, não soltamos, não desfaleci, não falecemos. Nunca estive tão sozinha, mesmo que pensasse o contrário.

As cafeterias, os encontros mensais do clube literário, as visitas na casa nova, as viagens de escapes, as cadeiras aleatórias de cada espetáculo no teatro e os flashes de memórias de uma imagem que não sai da cabeça, "você não está sozinha". Eu estive lá, como diz Clarice "...numa plenitude sem fulminação...". Vivi num espetáculo, agora, assisto de longe.

Graças a suavidade dessas palavras, consegui fazer meus próprios curativos, cobri o que costumava chamar de sequelas. Hoje, amanhã e depois, quero continuar acordando todos os dias pra encarar a rotina milagrosa que é voltar para mim.