Sumi. Dizem.
Dei uns perdidos na vida, não queria conversar, tampouco escrever. Jogaram-me num mar de dúvidas entre uns falsos otimistas a quem me questionavam: o que quero da vida, quem eu quero ser, o que quero fazer daqui pra frente, por que nunca era boa o suficiente pra ninguém ou pra nada, e por que dói se deveria estar tudo bem?
Creio que estava esgotada do cansaço que era de não mais me pertencer. Talvez estivesse perdida demais. Tudo era em excesso. Era o acúmulo de culpas de uma realidade que fora construída para abrigar minhas lamentações. Eram escolhas que insistiam em dizer que estavam certas outrora, erradas. Das pessoas que deixei escapar, desses caminhos que foram tomados e outros desviados.
Amargurada. Tal amargura fazia-me fugir dos outros. Não pelos outros – mas por mim. Estava num confronto e não tinha ninguém do outro lado da parede que poderia me salvar. Não saberia ao certo se lutaria, entenderia, ou aguentaria os laços indissolúveis que criaram para mim enquanto ainda resistia.
Sumi. Dizem. Fui resolver uns problemas comigo, fui entender no que precisava melhorar. Precisei da ausência até entender que, pera aí... Não preciso provar nada a ninguém, o método que uso na vida é deixar sempre a essência falar.
Aí de mim, escutar e não poder responder. Aí de mim, viver num palco estabelecido por "perfeições domésticas" por trás de cortinas, vivendo um falso equilíbrio por puro ego. A dor da não-notícia. As feridas internas mudando o semblante e a serenidade que já não me pertencia mais.
Sumi. Dizem. Saí de mim por um tempo. Lembro-me da última parada, da mão gelada ao pé do ouvido e do último afago que me destruiu por dentro, embora eu sentisse um pouco de fadiga nos olhos, mas lá dentro, eles ainda continuam castanhos e sonhadores.
Sumi. Sofri uns baques, revivi umas dores e outras. Mas nunca estive tão a fundo de meu próprio silêncio e nunca foi tão libertador escutar o que sempre esteve aqui, dentro. Ninguém precisa passar por situações difíceis tão sozinha, sem querer que os outros percebam a fragilidade de dentro. Até porque, pouco tempo após isso, agarrei-me na mão de muita gente, todos suados e cansados mas seguramos firmes, mesmo com as câimbras, não soltei, não soltamos, não desfaleci, não falecemos. Nunca estive tão sozinha, mesmo que pensasse o contrário.
As cafeterias, os encontros mensais do clube literário, as visitas na casa nova, as viagens de escapes, as cadeiras aleatórias de cada espetáculo no teatro e os flashes de memórias de uma imagem que não sai da cabeça, "você não está sozinha". Eu estive lá, como diz Clarice "...numa plenitude sem fulminação...". Vivi num espetáculo, agora, assisto de longe.
Graças a suavidade dessas palavras, consegui fazer meus próprios curativos, cobri o que costumava chamar de sequelas. Hoje, amanhã e depois, quero continuar acordando todos os dias pra encarar a rotina milagrosa que é voltar para mim.
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