13 de janeiro de 2020

Lições do velho Hemingway em Adeus às Armas



Durante a primeira guerra mundial, Hemingway não foi aceito no exército americano por ter um problema de visão. Mesmo não sendo propriamente soldado, o jovem aspirante a repórter não desistiu de lutar por seus ideais e conseguiu embarcar para a Itália, onde contribuiu para as forças aliadas como motorista de ambulâncias da Cruz Vermelha.

Com a bagagem cultural e emocional trazida pela guerra, compôs uma de suas obras mais conhecidas, o citado Adeus às Armas. O paralelismo entre a vida individual do Tenente Henry e a vida coletiva, da Itália e da Europa em geral. Hemingway encara o amor atribulado de Henry por Catherine em paralelo com o desenvolvimento da guerra.

A tragédia pessoal foi o corolário de uma aventura individual tão intensa e dramática como a própria guerra. Tal como Hemingway, a tragédia de um ser humano não é menor que a tragédia de uma nação, de um continente ou da humanidade inteira porque cada homem encerra em si um universo inteiro. 

[...] Aos que trazem coragem a este mundo, o mundo precisa quebrá-los para conseguir eliminá-los, e é o que faz. O mundo os quebra, a todos; no entanto, muitos deles tornam-se mais fortes, justamente no ponto onde foram quebrados. Mas aos que não se deixam quebrar, o mundo os mata. Mata os muito bons, os muito meigos, os muito bravos – indiferentemente. Se vocês não estão em nenhuma dessas categorias, o mundo vai matar vocês, do mesmo modo. Apenas não terá pressa em fazer isso. (HEMINGWAY, Ernest)

Passagens pessimistas e ao mesmo tempo encorajadoras, inspiradas pelos horrores da guerra, são indicativos de uma época em que o escopo da humanidade estava mais voltado às suas próprias falhas, e muito menos às suas supostas virtudes. 

“Quando me tiravam da cama para me levarem à sala dos curativos via pela janela os túmulos recém abertos no jardim. À porta que dava para o jardim, um soldado, sentado, fazia cruzes e pintava-lhes os nomes, o posto e o regimento dos homens que eram enterrados no jardim.”  (HEMINGWAY, Ernest) 

Embora muita gente pense que a guerra é apenas um pano de fundo para o romance dos dois. Acho que não. A medida em que o impacto da guerra fica mais próximo deles, mais eles se tornam essenciais um ao outro.

Poucos autores deixaram transparecer a sua própria vida, de forma tão clara, para a ficção. Essa situação, o autor nos faz pensar o quanto a guerra impacta as emoções. Podemos entender o mundo antes, durante e depois da Primeira Guerra Mundial a partir de todas essas etapas do romance deles.

Se a história da literatura fosse um romance, Ernest Hemingway seria o personagem mais fascinante. Hemingway é extremamente versátil e objetivo, é, sem dúvida, um dos mais brilhantes representantes da literatura americana do século XX. Hemingway nos faz despertar para o mundo, um mundo onde poucos querem se comprometer.